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sexta-feira, dezembro 01, 2006

CAOS



Meu esposo vivenciou uma experiência, que segundo suas próprias palavras, “só posso revelar aos iniciados”.
Não entendi muito bem o que ele quer dizer com iniciados, mas por suas conversas, acho que esse grupo são aquelas pessoas que lêem e discutem sobre teoria da relatividade, teoria quântica, teoria das cordas, buracos negros, anãs brancas, gigantes vermelhas, buracos de minhoca, matemática do caos, entropia e outras esquisitices mais.
Solicitei que narrasse em meu blog essa sua experiência singular, e para minha surpresa, fui prontamente atendida. Passo-lhe a palavra, ou melhor, o teclado.

A coisa aconteceu em 1973 na cidade de Curitiba/PR quando era estudante do 3º científico do Colégio Estadual do Paraná. Estávamos nos preparando para o vestibular e no cursinho Don Bosco (que freqüentávamos) tinha um professor de geometria chamado Amaury, um mestre notável.
Ele desenhava à mão livre na lousa com tal precisão que dava vontade de tirar fotos de seus entes geométricos. Fiquei ainda mais apaixonado pela geometria.
Certa tarde, eu e alguns colegas nos reunimos para estudar matemática. Cada um daria uma aula sobre o assunto que melhor dominava. A minha obviamente era sobre geometria.
Pirâmides, cones, prismas e cubos, desenhava tudo com capricho, inspirado nas aulas do professor Amaury. Terminada a exposição, falei que a energia das pirâmides pairava no ar. Fazia uma bela tarde de sol de primavera. ( O livro Eram Deuses os Astronautas? Estava no topo da lista)

Naquela época eu já fumava e tinha o hábito de bater com a ponta do cigarro na mesa para melhor acomodar o fumo.
Havia uma mesa redonda, de imbuia negra, polidíssima. Empolgado com meus desenhos, naquela tarde ao invés de bater com a ponta do cigarro na mesa, resolvi jogá-lo sobre aquela superfície; foi quando o fenômeno aconteceu.
Para espanto geral do grupo, o cigarro caiu e parou de pé! Isso mesmo, ficou de pé, com o filtro para baixo, completamente estático sobre a superfície polida de imbuia.
Fizemos cálculos sobre a trajetória parabólica de um corpo leve cilíndrico arremessado sobre um plano para verificar a possibilidade de ocorrência daquilo que havíamos recém presenciado. Após várias hipóteses concluímos que a gama de variáveis atuantes fugia completamente ao nosso domínio. Talvez ainda hoje, com o emprego de computadores, o cálculo da probabilidade do mesmo fato se repetir seja realmente complexo.
Estaríamos diante de uma equação que somente uma nova matemática poderia explicar?
A matemática do caos, neociência em franca expansão, fala sobre sutilezas extremamente complexas. Talvez a mais famosa seja O Efeito Borboleta. “O bater de asas de uma singela borboleta na China, meses depois poderá causar um furacão na Flórida”.

Para encerrar, esclareço que me dispus a fazer esse relato porque a Suênia anda muito interessada por coincidências. Várias delas tem ocorrido em nossas vidas, e mais recentemente, a freqüência desses eventos tem aumentado substancialmente.
Acredito que existem razões, senão equações, que poderão explicar as coincidências. Mais meio século de ciência – um breve lapso na história das civilizações, e provavelmente teremos respostas satisfatórias.
Em tempo: naquela tarde de 1973, após contemplar o cigarro que parou de pé, levantei-o do tampo, observei cautelosamente se não havia nada de estranho no filtro ou na mesa, e como de fato não havia, fumei-o com prazer.