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terça-feira, agosto 01, 2006

Quem mais falou foi um mudo

O episódio que irei narrar é muito interessante, os fatos mencionados são reais e recente. Estou lecionando a disciplina Acessibilidade Digital: Sociedade Tecnológica, Humanismo e Educação para o curso de pós-graduação Educação Especial, promovido pela AUPEX.
Na primeira aula formamos equipes ( dinâmica do balão) solicitei aos grupos que lessem com atenção o texto de Elisabete Dias de Sá, que fala da Inclusão Digital e de Acessibilidade Digital. Solicitei também, aos grupos que elaborassem um cartaz escrevendo o conceito formado pela equipe e que colassem gravuras que representasse a acessibilidade Digital. Meu objetivo com esta atividade foi observar o que os alunos conheciam sobre o tema e o que mais despertaria o interesse do grupo. Após os cartazes estarem prontos, cada equipe fez sua apresentação. Leram para a turma os conceitos formados e mostraram as gravuras selecionadas. Durante a apresentação questionei os componentes dos grupo sobre a construção do conceito e o que os levou a escolher aquelas gravuras. Foi nesta fase que aconteceu um episódio interessante: Uma das equipes era integrada por um surdo-mudo. Ele escreveu um relato de sua experiência e pediu para um colega ler o que tinha escrito em quanto ele através da linguagem de sinais transmitia sua mensagem. Entusiasmado, contou-nos sua experiência de vida antes e após seu ingresso às tecnologias de informação e comunicação (TIC). Foi emocionante! Podemos entender e sentir a relevância da tecnologia à serviço das pessoas com necessidades especiais. Quem mais falou foi o mudo!
Após as apresentações mostrei através de lâminas o conceito científico sobre acessibilidade digital. Também, apresentei algumas gravuras de acessibilidade tais como: capacete adaptado para digitação, monitores e teclado para cego etc. Com a finalidade de propiciar aos alunos a reelaboração se necessário dos conceitos traçados e a reorganização das gravuras.
Na próxima aula contarei a experiência de Ronaldo Correa Júnior, tetraplégico, que narra sobre as mudanças em sua vida graças a tecnologia e a generosidade de uma congregação religiosa que propiciou os recursos para que ele atingisse seus objetivos. Estou curiosa sobre a reação da classe.
À luz desses acontecimentos gostaria de lançar os seguintes questionamentos:
Fazer milagres seria algo prodigioso, possível somente aos grandes avatares, ou estaria ao alcance dos comuns mortais?
Podemos permitir aos surdos ouvir e aos segos enxergar, aqui mesmo em nosso limitado cotidiano?
Os milagres referidos nos livros Santos podem ser operados por meio da ciência?
Seria o amor ao próximo o primeiro e fundamental passo para a criação de toda a tecnologia?

2 comentários:

Daniela Hoffmann disse...

Oi, Suenia.
Eu escrevi um comentário na postagem anterior sem ter lido esta aqui, hehe
Nesse comentário, pedi para escreveres sobre o trabalho no curso de pós-graduação (desnecessário esse meu pedido, não é mesmo? Esse é o resultado de fazer leitura cronológica e escrever comentários antes de terminarem as postagens...)
Teu envolvimento parece tão grande quanto teu relato ;o)
E eu fiquei me perguntando sobre os questionamentos que farás (ou já fez, depende de quando leres este comentário) à turma, mas em relação a ti: o que tu pensas a respeito? Quais são as tuas respostas às questões que levantaste?
[ ] s
Daniela

Beatriz disse...

Realmente, as tecnologias e a ciência cada vez mais propiciam "milagres" como colocas, na medida em que propicia condições para aqueles que não as têm. Já pensastes no esportista usa próteses em vez de pernas e tem um tempo de corrida tão ou maior que os esportistas que tem as dus pernas? Parecido com o teu exemplo não? Assim parece que, em pouco tempo, os comuns mortais poderão ter sua vida facilitada e a data da sua morte cada vez mais distanciada. Essas possibilidades terão que se estender a todos não como permissão mas como direito pelo simples fato de que são homens e participam da sociedade.Agora, não sejamos puros ou maldosos, classificando a ciência como sendo a ciência do bem ou a ciência do mal. Ela é a ciência e o que o homem faz com sua própria criação e contrução é que pode ser discutida e criticada.
Um abraço
Bea